A esperança.
Quem me dera voltar a abrir janela de outrora. Hoje, vejo os prédios cinzentos e sombrios, ouço o ruído ensurdecedor do trânsito citadino. Hoje, observo os passos apressados dos transeuntes que seguem as suas rotinas matinais, numa vida frenética e sem sentido. O ar está seco e pesado, o sol está pálido e mal encarado. Hoje, sou invadida por um medo brutal de perder aquilo que mais amo na vida, a própria, e sinto-me péssima, embriagada pelos meus próprios pensamentos. Num surto de raiva, fecho a janela e volto para o meu ninho. Sento-me na cama, olho-me ao espelho pregado na porta do roupeiro e penteio o meu cabelo louro, débil e fino. Um louro baço, que deixou de brilhar como sol. As mãos tremem, o coração palpita, estou infinitamente infeliz, mas quero pedir à vida um novo rumo. Quero! E tão depressa como a fechei, levanto-me da cama, e volto a abrir a janela. E assim como outrora, agora já vejo um céu límpido e sereno, um mar denso e azul à minha frente e avisto as montanhas, ao longe, cercadas por pequenos pedaços de algodão branco no horizonte. Agora, inspiro a tranquilidade desta vista e debruço-me para apanhar as flores que brotam nas árvores vizinhas, graças ao sol brilhante da primavera. Assim do nada, como se um véu de esperança me envolvesse, sinto-me definitivamente feliz! O meu medo tornou-se a certeza de querer viver! Tornou-se a esperança!
[Ficção - Life Moments]
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