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A Princesa da Casa

Por aqui escreve-se sobre fatos reais, rotinas diárias e histórias imaginárias!

A Princesa da Casa

Por aqui escreve-se sobre fatos reais, rotinas diárias e histórias imaginárias!

Há quem precise mais que nós...

22.05.14

Se pudesse trocaria de vida, seria tão mais fácil ser um pombo. De certo, não perderia tempo com divagações, muito menos com lamentações. Olho-te com inveja pobre pombo, tu que vives apenas por viver, sem pensar nos porquês, ficas contente com as migalhas de pão que encontras no caminho, não te lamentas se está a chover ou está frio, não queres mais para além do que tens, nem te desiludes com os outros porque confias no teu bando. Já eu, este homem desmazelado, que em tempos foi casado, e tinha uma profissão distinta no ramo bancário, está em constante perturbação, a perguntar-se consecutivamente - porquê eu?

A mulher a quem jurei fidelidade, e cumpri - perdi-a - porque ela não cumpriu. “Já não te amo. Conheci outra pessoa”, disse ela sem um mínimo de pudor “É melhor cada um de nós seguir a sua vida”. E assim de um momento para outro tudo o que tinha de certo, tornou-se incerto. Como seguiria eu a minha vida sabendo que tudo o que tinha planeado tinha sido ultrajado. E o filho que planeamos ter? E a viagem que queríamos organizar? E as idas ao cinema à sexta-feira à noite? E os jantares inusitados? À base de calmantes e conversas com a psicoterapeuta segui a dita vida. Tu não precisas disso pombo, mas, eu precisei para continuar a dormir à mesma hora e para conseguir acordar todos os dias para ir trabalhar.

Mais tarde a dita crise tocou-me à porta. “Como sabes estamos com algumas dificuldades e temos que reduzir o quadro”, anunciou o meu chefe com o seu estilo snobe e calculista. Percebi que fazia parte da lista negra do desemprego. O meu mundo perfeito, alinhadinho, rotineiro e perfeccionista voltou a desabar, mais caixas de antidepressivos para cima da minha mesa de cabeceira, mais sessões de ajuda com a psicoterapeuta...

Em tempos, quando tudo estava no sítio certo eu era o primeiro a lamentar-me, ou porque estava a chover, ou porque o comer estava frio, ou porque as notícias que anunciavam na tv eram sempre as mesmas, agora que tudo é incerto, deixei de me lamentar, vivo um dia de cada vez, à espera de uma resposta. E gosto de vir aqui, observar o rio e imaginar a minha vida caso tivesse nascido pombo. “Experimenta”, as divagações foram quebradas por uma jovem mulher, com um aspecto mais desmazelado que o meu e a precisar nitidamente de banho.  Ela ofereceu-me metade de um cacete seco e desmiolado para atirar aos pombos. Atirou e eu segui-lhe o exemplo e de repente ficámos cercados por centenas de pombos esfomeados.  Ela riu-se com vontade, tinha um rosto bonito e atraente, e exclamou “Há quem precisa mais que nós”. Eu acenei com a cabeça e pensei que já não me sentia assim há muito tempo. 

Treinando a escrita [12]

O meu lugar é nos teus braços!

28.04.14

Eu tinha em mim todos os sonhos de uma vida, mas foram levados abruptamente por alguém que não os merecia. Agora, desde que te conheci, parece que tudo faz sentido nesta encruzilhada a que chamam vida, só o teu abraço pode derreter o meu gelo, só o teu carinho pode voltar a reunir os pedaços do meu coração quebrado, só as tuas palavras podem dar-me a esperança de acreditar que amar é possível. Já sei qual é o meu lugar no mundo, é aqui, junto a ti, nos teus braços. Já sei qual é a minha missão na vida, é reconstruí-la de novo, fazer-te feliz, mas sobretudo fazer-me feliz! Posso não ter acertado à primeira, posso ter batido contra tudo e todos à segunda, mas há sempre uma terceira tentativa to be happy!  

Treinando a escrita [11]

 

Fotografia by http://desabafo-eu.blogspot.pt/

 

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A espera.

26.02.14

 

 

Guardarei esta espera na memória. Guardarei até que tudo acabe e o planeta deixe de ter vida. Guardarei até que a terra seque e eu, centenária, morra. Sentado, horas a fio, de olhar vago e coração solitário, o Manuel espera. Para ele, a vida já deixou de ser vivida.

Aqui mesmo, neste lugar, onde perduro, ouvi juras de amor, palavras de carinho e vi momentos de ternura. Aqui brincaram crianças, correram, treparam-me, soltaram gargalhadas. Aqui, à noite, no Verão, viam-se as estrelas, contavam-se histórias, planeavam-se os dias, confidenciavam-se sonhos e viam-se beijos, abraços e carícias. Mas, nem todos os dias eram felizes, também se viveram momentos difíceis, horas em que se tinham que tomar decisões, dias em que não era fácil olhar em frente. Foram verbalizadas palavras e tomadas atitudes que magoavam. Mas, as feridas, mais tarde ou mais cedo, saravam.

E hoje, sentado, horas a fio, frente à casa, outrora caiada de fresco, o Manuel espera. Olha o infinito, sem pensar em nada, sem desejar nada, sem planear nada. Espera como se ela um dia voltasse. Espera como se ela pudesse sair de casa e chamar por ele, a resmungar entre dentes, que o almoço já estava frio.

 

[Ficção - Life Moments]

 

* Fotografia by Alexandre Cibrão - www.acibrao.com