Ao encontro da inspiração
Como se fosse um fogo, ou uma chama, a arder dentro de mim, quando aparece, é instantânea, esta vontade de escrever que me dá tanto prazer. E dos meus dedos surgem do nada palavras que constroem um todo, com ou sem sentido, pouco importa, o que importa, é que me sinto vivo quando esta vontade louca de escrever desperta em mim.
Mas, há dias em que me sinto vazio, perdido, e vejo o acumular de papel amarrotado debaixo da secretária, sinto o suor a percorrer-me o corpo, sou invadido por um desespero inútil porque não gosto de nada do que escrevi. São linhas e linhas rasuradas e nem um copo de vinho me trás alento. O quarto pequeno, com cheiro a mofo, de uma pensão velha no centro da pior parte da cidade, também não ajuda.
Levanto-me, sentindo os músculos presos por causa das horas continuas ali sentado, vou até à janela, inspiro o ar poluído, observo o ambiente nocturno, acendo um cigarro e olho para o relógio de parede - é esta pressão imposta pelos horários que dá cabo do meu sistema nervoso, da minha inspiração. Desisto, por hoje desisto. A cabeça está demasiado ocupada com pensamentos supérfluos, a data de entrega terá que ser mais um vez adiada. Mas, conheço alguém que é capaz de me acalmar, que me trata como menino, que me dá alento e que mima quando preciso.
Apago o cigarro. E depois de um duche de água gelada, vestido e perfumado, deixo a porta bater por de trás de mim, desço as escadas da pensão e vou ao encontro do conforto nos braços desse alguém.
[Ficção - Life Moments]
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