Dançar à chuva...
Percorri aquele caminho várias vezes, de mão dada, soltando gargalhadas e contando piadas. No Verão com sabrinas, senti as pedras da calçada de baixo dos meus pés e de chinelas, fazia um esforço para conseguir caminhar. No Outono com botas, quase escorregava e os saltos altos ficavam presos entre as pedras.
Por entre conversas divertidas, palavras carinhosas e promessas para a vida, sentia-me feliz e o meu mundo era só dele. Tudo ao meu redor era belo, fizesse calor ou frio.
Mas hoje, tudo parece triste e feio. Maldita chuva que transforma o meu dia ainda mais cinzento do que é! Malditas palavras que me fizeram acreditar numa ilusão!
O sol de verão deu lugar a um Outono tímido. E o Outono deu lugar a um inverno frio e chuvoso. A alegria de um amor de verão deu lugar à solidão. Aquele amor que parecia para vida, depressa se foi como o sol quando anoitece. Pensei que o conhecesse. Mas agora percebo que não sei nada sobre ele. De onde era? Com quem vivia? E do que vivia?
Hoje descalço-me e sinto o gelo da calçada. O reflexo da paisagem. O espelho da minha tristeza. E ao som do vento danço à chuva. Danço para esquecê-lo!
* Fotografia by Alexandre Cibrão - www.acibrao.com
[Ficção - Life Moments]