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A Princesa da Casa

Por aqui escreve-se sobre fatos reais, rotinas diárias e histórias imaginárias!

A Princesa da Casa

Por aqui escreve-se sobre fatos reais, rotinas diárias e histórias imaginárias!

Os homens da noite

18.06.14

E assim de um momento para o outro, os homens da noite afastaram a escuridão profunda. Emergiram no horizonte constelações que despoletaram sorrisos até nos menos crentes. Lá em baixo, algumas pessoas com medo, espreitavam pelas janelas, outras mais aventureiras, saíram à rua, à cautela, para ver o que se passava. E o murmúrio foi crescendo, a alegria tornou-se contagiante. Os homens da noite fizeram do céu um território de luz!

Agora, quem passeia lá por baixo e olha para as estrelas não os vê, nem tão pouco imagina que lá estão, mas noite após noite eles estão ali, a iluminar o nosso caminho, a dar esperança aos nossos passos e a fazer-nos seguir pelo trajecto correcto!  

 

Fotografia by Christian Schloe Digital Artwork 

[Ficção - Life Moments]

A esperança.

16.03.14

 

Quem me dera voltar a abrir janela de outrora. Hoje, vejo os prédios cinzentos e sombrios, ouço o ruído ensurdecedor do trânsito citadino. Hoje, observo os passos apressados dos transeuntes que seguem as suas rotinas matinais, numa vida frenética e sem sentido. O ar está seco e pesado, o sol está pálido e mal encarado. Hoje, sou invadida por um medo brutal de perder aquilo que mais amo na vida, a própria, e sinto-me péssima, embriagada pelos meus próprios pensamentos. Num surto de raiva, fecho a janela e volto para o meu ninho. Sento-me na cama, olho-me ao espelho pregado na porta do roupeiro e penteio o meu cabelo louro, débil e fino. Um louro baço, que deixou de brilhar como sol. As mãos tremem, o coração palpita, estou infinitamente infeliz, mas quero pedir à vida um novo rumo. Quero! E tão depressa como a fechei, levanto-me da cama, e volto a abrir a janela. E assim como outrora, agora já vejo um céu límpido e sereno, um mar denso e azul à minha frente e avisto as montanhas, ao longe, cercadas por pequenos pedaços de algodão branco no horizonte. Agora, inspiro a tranquilidade desta vista e debruço-me para apanhar as flores que brotam nas árvores vizinhas, graças ao sol brilhante da primavera. Assim do nada, como se um véu de esperança me envolvesse, sinto-me definitivamente feliz! O meu medo tornou-se a certeza de querer viver! Tornou-se a esperança!

 

[Ficção - Life Moments]

 

Imagem by http://anamarta-anamarta.blogspot.pt/

A espera.

26.02.14

 

 

Guardarei esta espera na memória. Guardarei até que tudo acabe e o planeta deixe de ter vida. Guardarei até que a terra seque e eu, centenária, morra. Sentado, horas a fio, de olhar vago e coração solitário, o Manuel espera. Para ele, a vida já deixou de ser vivida.

Aqui mesmo, neste lugar, onde perduro, ouvi juras de amor, palavras de carinho e vi momentos de ternura. Aqui brincaram crianças, correram, treparam-me, soltaram gargalhadas. Aqui, à noite, no Verão, viam-se as estrelas, contavam-se histórias, planeavam-se os dias, confidenciavam-se sonhos e viam-se beijos, abraços e carícias. Mas, nem todos os dias eram felizes, também se viveram momentos difíceis, horas em que se tinham que tomar decisões, dias em que não era fácil olhar em frente. Foram verbalizadas palavras e tomadas atitudes que magoavam. Mas, as feridas, mais tarde ou mais cedo, saravam.

E hoje, sentado, horas a fio, frente à casa, outrora caiada de fresco, o Manuel espera. Olha o infinito, sem pensar em nada, sem desejar nada, sem planear nada. Espera como se ela um dia voltasse. Espera como se ela pudesse sair de casa e chamar por ele, a resmungar entre dentes, que o almoço já estava frio.

 

[Ficção - Life Moments]

 

* Fotografia by Alexandre Cibrão - www.acibrao.com

Minuto...

11.02.14

 

Minuto, instante rápido que passa sem darmos conta, momento imediato que marca a nossa cronologia de vida e que poucas vezes retemos na nossa memória. Mas, quando somos invadidos pela ansiedade da espera, pela busca da notícia ou pelo medo súbito da perda, sentimos esses sessenta segundos como uma fracção intemporal, demasiado longa e excessivamente meticulosa (capaz de ficar retida para sempre na nossa memória).

 [Ficção - Life Moments]

*Fotografia by http://www.morguefile.com

À espera da fase seguinte...

05.02.14

 

Passamos pela nossa vida à espera da fase seguinte, na esperança que a próxima fase seja melhor que esta.

Na adolescência queremos ser adultos, quando adultos queremos ser crianças e na velhice queremos ser jovens outra vez! 

Pergunto-me muitas vezes "qual será a melhor fase da nossa vida"? A resposta é fácil, e tardia. A melhor fase, é a de hoje, porque o ontem já não o podemos mudar e o amanhã é tão incerto como a natureza.

 

[Ficção - Life Moments]

 

* Fotografia by Alexandre Cibrão - www.acibrao.com

O reencontro.

28.01.14
 
O sol rompeu por entre o céu nublado, deixando transparecer um mar denso e agitado, e gritando "bom dia". Preso no meu fato preto armani, senti o cheiro a mar embrenhado no café e peguei na chávena com a mão a tremer, ansioso.  Senti o paladar adocicado e rico daquele  remédio matinal e folhei o jornal sem me focar em nada.
Esperei por ela durante anos. Aquela rapariga doce que me quebrou em pedaços há muitos anos atrás e me deixou viver numa ilusão. Como estará agora? Afastei, outra vez, a manga do casaco e olhei para o elegante e extravagante relógio de pulso, mas as horas pareciam suspensas. Esperei tanto por aquele momento, porque me custa agora esperar mais uns minutos?
O mar estava revoltado, outrora estivera eu, angustiado e imerso em perguntas sem resposta. À beira do abismo escolhi o caminho que Deus me indicou. Agora sou um homem de meia idade, casado e com filhos crescidos. Sou um homem rico e poderoso. Tenho tudo o que quero. Minto, talvez não tenha tudo.
Chegou finalmente. Veja-a bela como se o tempo não tivesse passado. Acena-me e sorri. O mesmo sorriso contagiante da rapariga humilde e inocente que conheci. Sinto-me nervoso. Tudo aquilo que pensei dizer, deixou de ter sentido. Sinto-me rídiculo, eu, o todo poderoso?
Ela aproxima-se e abraça-me.
E de repente, estamos outra vez abraçados, a balbuciar palavras de despedida naquela manhã fria de outono de há vinte anos atrás!
 
[Ficção - Life Moments]

* Fotografia by http://www.2-quick.com